terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Um "Cerco De Jericó" Diferente

Um "Cerco De Jericó" Diferente

"Cerco de Jericó" em Taubaté. Um costume religioso polonês criado 
para "combater o comunismo" passou, no Brasil,  a ser Show 
de música com oportunidades eleitoreiras.



O Que É?
Muitas pessoas, aqui no Brasil, participam de um culto na Igreja Católica chamado "Cerco de Jericó". Durante 7 dias seguidos (em Taubaté no ano de 2016 foi entre 5 e 11 de janeiro), junta-se uma multidão para ficar cantando e repetindo "rosários" (ou "terços") durante horas à fio. Com qual objetivo? 
Segundo o entendimento geral da ocasião é para "derrubar  muralhas (as dificuldades)" e "libertar dos males". Enfim, a explicação que dão é a mesma de todos os eventos religiosos: "aproximar o homem de Deus". E dizem que o evento "é baseado na Bíblia".
Imagina-se que, como os Israelitas derrubaram as muralhas de Jericó, após um cerco de 7 dias, também pode-se fazer o mesmo com os problemas do dia a dia atual, pelo simples fato de se repetir as rezas tradicionais do catolicismo dentro de uma multidão reunida.
Mas de onde veio tal costume? Será que veio do cristianismo? Tem ele, como é observado hoje, alguma coisa à ver com o verdadeiro cerco de Jericó descrito na Bíblia? 


Oriundo da Política e do Patriotismo Polonês
O costume é relativamente novo se comparado à idade do catolicismo. Teve início quando o papa João Paulo II decidiu visitar a Polônia, sua terra natal., em maio de 1979. Preparou-se aquilo que seria o primeiro "Congresso do Rosário", o povo deveria rezar seguidamente, durante 7 dias, diante do "santíssimo exposto", para antecipar  a visita do papa. 
João Paulo segundo era adepto das horas intermináveis de repetições de mantras católicos e até tentou (sem sucesso) adicionar mais cinco 'aves-marias' nas séries de dez do 'terço'. Com a sua visita à Polônia ele esperava que o novo "Congresso do Rosário" se estabelecesse. Na época o comunismo dominava e a intenção do papa era que a Polônia "se livrasse do comunismo", por observar o Congresso. 


Ganhou o Nome Por Motivo Político
Pouco antes da visita do papa à Polônia, no mosteiro Jasna Gora, houve uma discussão à respeito da palavra "congresso". Aparentemente essa palavra não agradava os católicos simpatizantes do ocidente, já que poderiam associá-la aos "congressos" políticos comunistas. Decidiram então dar-lhe o nome de "Cerco de Jericó". Só então começaram a fazer associação deste evento com o que aconteceu nos dias do personagem bíblico Josué.  
Também foi decidido nesta reunião que a semana do 'Cerco', "ordenada oralmente pela 'Rainha do Céu'", fosse em abril, uma semana antes da chegada do Papa. 


A Motivação Inicial Esquecida 
Da Polônia o costume, já com o 'nome oficial' de Cerco de Jericó, se espalhou para outras partes do mundo. O que ocasionou essa expansão foi o atentado, também por motivos políticos, que o papa João paulo II sofreu me maio de 1981.   
Ao se recuperar ele disse que "o rosário (terço), tem poder de exorcismo". Imaginou que, se "o rosário o "livrou da morte", este deveria ser levado ao resto do mundo. “Ide ao Canadá, aos Estados Unidos, à Inglaterra e à Alemanha para salvar o que ainda pode ser salvo.”  - disse João Paulo II atribuindo estas palavras à "Rainha do Santíssimo Rosário" por ela ter "vencido satanás". 
Anos mais tarde, em 1989, o comunismo realmente caiu, mas não por causa das rezas católicas e sim por motivos financeiros e políticos dentro  da antiga URSS, onde praticamente não existia o catolicismo tradicional.  E o próprio João Paulo II faleceu em 2005 em meio à uma enxurrada de rezas do "rosário" pelo seu restabelecimento. 


Como É Observado Hoje? 
Nos dias atuais aqueles que participam do "Cerco de Jericó', dificilmente imaginam que seu início  foi motivado por questões políticas do século passado. 
No Brasil o culto ganhou aspecto de show onde há, não só repetições de rezas, mas também músicas "inéditas". Padres costumam usar a ocasião para lançarem CDs e políticos comparecem  para  promoverem - não raro com a ajuda do celebrante - suas campanhas eleitorais. 
Assim, o "Cerco de Jericó", hoje, nada mais é do que um pacote de missas demoradas, não muito diferente das que acontecem, mas com muito mais ingredientes... inclusive políticos. 


A foto á esquerda mostra uma panfletagem na internet de campanha política de 2014, de um vereador de Taubaté, que suou como 'pano de fundo', o evento do Cerco de Jericó.






Nada a Ver Com o Cerco de Jericó Bíblico 
Jericó, uma cidade cananeia, foi a primeira cidade a ser conquistada pelo povo hebreu após seus 40 anos de peregrinação pelo deserto, uns 1.500 anos AC.  
Queira ler em sua Bíblia, a história do cerco que Josué fez às muralhas da cidade  (Josué 6:2-26), fazendo ecoar trombetas por 7 dias em volta delas até que caíssem. Você vai perceber algo interessante ao focalizar no relato dois pontos importantes: 

1 - Josué ordenou para ficar longe das coisas devotadas à destruição (Josué 6:18). Jericó inteira, com todos dentro, incluindo os animais, foi devotada à destruição.

2 - Raabe, um prostituta cananeia, residente em Jericó e sua família, foram salvos por ela ter demonstrado bondade, aos esconder os espiões de Josué (Josué 6:17). A casa onde eles estava escondidos não foi demolida nem milagrosamente e nem pelos israelitas.

Podemos ver claramente que o cerco de Jericó bíblico não foi igual, nem em propósito e nem em consistência, ao que se ritualiza hoje.    
Hoje os fieis católicos pensam que "estão cercados" pelo inimigo e que "precisam derrubar as muralhas para se livrarem". Mas o verdadeiro cerco de Jericó da Bíblia  foi o contrário disso. Foram os israelitas que cercaram o inimigo e o destruíram, não permitindo que escapassem, com exceção de uma só família. 
Além disso o cerco bíblico verdadeiro durou 7 dias ininterruptos e o de hoje dura algumas horas do dia apenas.


Generalização que Desensina 
De maneira que o que a Igreja diz sobre esse assunto nada tem a ver com a verdade dos fatos. Mas a generalização de suas explicações  transforma diferentes lições bíblicas em 'coisas iguais'. 
Ou seja: Como os católicos não leem a Bíblia, qualquer passagem contida nela é "explicada"  pelos padres contendo uma forma geral, com o mesmo significado e culminando com a mesma máxima: "faça o bem para ir para o céu." No cerco de Jericó verdadeiro não houve nada disso.
E com o Cerco de Jericó atual é a mesma coisa. Não lendo essa passagem durante a cerimônia e "explicando-a" em termos genéricos, usam-na para dizerem as mesmas coisas que sempre dizem de qualquer outra passagem. 

Mas, confira por você mesmo, em sua Bíblia e verá a diferença! 


Publicado do Grupo Taubaté - SP Aqui



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