domingo, 8 de outubro de 2017

As Viagens Missionárias de Pedro - 2ª Parte - Pedro Era "O Chefe" dos Apóstolos?

Representação de Pedro sendo libertado da prisão por um anjo (Atos 12:6-11).
Tudo o  que é narrado na Bíblia sobre Pedro, mesmo aquelas passagens em que ele
erra e é repreendido,  é interpretado pelos católicos como sendo "prova" de sua liderança,
No entanto em parte alguma dos textos que citam Pedro se menciona sua suposta "chefia"
entre os cristãos. Vamos raciocinar aqui sobre algumas dessas passagens.


- Prólogo -
A Igreja Católica "Romana", conforme vimos na 1ª parte dessa matéria, baseia toda a sua fé na suposição de que "Pedro fundou a Igreja Católica em Roma".
Assim é natural que a Igreja Católica também afirme que "Pedro foi o 1º chefe" (muitas vezes chamado também de "Príncipe") dos Apóstolos, sendo portanto "o primeiro Papa".
Seria essa afirmação verdade? Ou tal afirmação, como as outras sobre ele, também é mera interpretação de textos bíblicos? O que realmente a Bíblia fala de Pedro?
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- Cartas Simples De E Para Pessoas Simples -
Vimos ,
na 1ª parte desse assunto, que as cartas de Pedro e Paulo foram escritas para pessoas simples e não para "doutores" e "entendidos". Elas foram escritas para as pessoas do povo que estavam se convertendo ao cristianismo para, entendendo o que Deus requeria delas para a conversão, praticassem o aprendizado a fim de obterem aprovação de Deus.
Naturalmente tais narrativas e conselhos são claros, como que de Pai para filho, e, não sendo complicadas, com palavras ou frases codificadas ou enigmas. Assim, elas não precisam de interpretações de "
especialistas".
Os próprios Apóstolos, que as escreveram eram "
pessoas comuns", do povo, sem nenhuma instrução acadêmica especial (Atos 4:13). Pedro, por exemplo, foi um simples pescador.
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- Complicando O Que É Simples -
Mas a Igreja Católica, que foi formada no início do Séc IV, passou a dizer que "
o povo não pode entender a palavra de Deus". Passou a tomar posse das Escrituras e invalidar sua leitura pelo povo, justamente o contrário do que pretendiam os apóstolos. E passou a interpretar os escritos bíblicos conforme lhe parecesse conivente.

Mateus 16:18, por exemplo é interpretado como uma "prova" de que Jesus "comissionou" Pedro como "o cabeça de sua igreja" lhe dando "a primazia entre os apóstolos".
Caso isso fosse verdade os livros bíblicos, principalmente à partir de Atos, seriam escritos baseando-se nessa suposta "chefia" de Pedro. Mais ainda, as profecias, antes dos Evangelhos, que falam nitidamente de Cristo, também mencionariam o início do "papado" humano á partir de Pedro. Nada disso, porém, está nas Escrituras.
Vamos verificar se tal interpretação corresponde á verdade?

Primeiramente não se acha escrito em parte alguma da Bíblia inteira algo que corrobore a interpretação da Igreja para a suposta "chefia" de Pedro. e nem do aparecimento de uma Igreja com um chefe humano que se estabeleceria com a vinda de Cristo.
O que dizer do texto de Mateus 16:18 (BJ - versão bíblica católica Bíblia de Jerusalém)? Ele diz: “Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela."
Indica esse texto que Pedro foi designado como "chefe" dos apóstolos? Não. Vejamos:
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- Quem Era a Pedra? -
A - Dizer que "Pedro era a pedra onde Cristo edificaria sua igreja" contraria o que o próprio Pedro escreveu, reconhecendo que Cristo, e não ele próprio, era a "pedra" onde seria edificada a fé cristã (1ª Pedro 2:4:8).
O próprio
Agostinho (354-430 EC),um dos "Pais da Igreja" reconhecia que Jesus, não Pedro "era a pedra da Igreja cristã" - Obra: The Fathers of the ChurchSaint Augustine, the Retractations (Washington, D.C., EUA; 1968), Livro I, p. 90. (ou seria forte o suficiente para miná-la).
Se Pedro não era "
a pedra" o que significou aquelas palavras de Jesus? Jesus estava lembrando à Pedro que ele, o próprio Jesus, edificaria a forte fé que os cristãos exerceriam nele de maneira que diante de tal fé, nenhuma "porta do inferno" (ou da morte) prevaleceria.A fé de Pedro em Cristo seria tão forte que "não morreria". E esta forte fé seria espalhada para todos os que quisessem tê-la.
As palavras de Jesus não foram nenhuma "
comissão de chefia" conforme interpretam os católicos. Foram uma "visão do futuro" da congregação em torno de seu nome.
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Quem Era O "Maior"? -
B - O nome "Pedro", dado por Jesus a Simão, realmente significa "pedra", ou "rocha". Mas esta "rocha" era uma alusão a forte fé de Pedro. Era também uma alusão ao caráter de Pedro. Ele era "duro de ser convencido", mesmo por Cristo. Mas depois que passava a crer, nada o removia da crença obtida. O conceito de "rocha" aplicado a Jesus é diferente.
Se Pedro fosse a “rocha” ou a “pedra” no sentido de ser a "base" da Igreja, e tivesse sido designado "chefe" haveria dúvida quanto a ele ser o maior entre os Apóstolos? Não.
Em Lucas 22:24-26 (BJ) lemos: “Houve também uma discussão entre eles [os apóstolos]: Qual seria o maior? Jesus lhes disse: ‘Os reis das nações as dominam, e os que as tiranizam são chamados Benfeitores. Quanto a vós, NÃO DEVERÁ SER ASSIM.’”
É interessante que tal discussão aconteceu depois que cristo proferiu suas palavras à Pedro sobre ele ser a "pedra".
Os Apóstolos, nesta ocasião ou em qualquer outra, não mostraram estar submissos à alguma chefia de Pedro entre eles.
Além disso Jesus comparou o que os Apóstolos estavam fazendo naquela discussão com o que faziam os reis das nações.. Ele admoestou que entre os cristãos "não deverá ser assim". Ou seja: não haveria "chefes" entre os cristãos. O "cabeça" era o próprio Cristo e sua Lei, escrita na Bíblia, seria sua orientação aos apóstolos, como um todo, e não a partir de um para os outros.
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- Ocupou o "Lugar de Jesus"? -
C - Alguns católicos alegam que quando Cristo morreu, "deixou Pedro em seu lugar" para "cuidar da Igreja".
Mas isso seria o mesmo que dizer que o próprio Cristo não cuida de suas ovelhas desde o céu.
Contrariando essa afirmação, Hebreus 7:23-25, BJ diz a respeito de Jesus: “Os outros tornaram-se sacerdotes [em Israel] em grande número, porque a morte os impedia de permanecer. Ele [Jesus Cristo], porém, visto que PERMANECE PARA A ETERNIDADE, POSSUI UM SACERDÓCIO IMUTÁVEL. Por isso é capaz de salvar totalmente aqueles que, por meio dele, se aproximam de Deus, visto que ele vive para sempre para interceder por eles.
Ou seja: Jesus não precisa de "substituto" aqui na Terra. Os cristãos não precisam de um chefe espiritual humano que sirva de intercessor entre eles e Deus ou mesmo entre eles e Jesus. Esse papel pertence unicamente à Cristo, o único sacerdote imutável - e insubstituível - para a humanidade, cabendo a todos os humanos, incluindo Pedro, apenas seguir suas instruções já detalhadas na Bíblia, ara serem aceitos por Deus.


- Outros Argumentos -

- 1 - "Apascenta Meus Cordeiros"
Os católicos citam João 21:15-19, onde lemos que Cristo disse à Pedro três vezes para que ele apascentasse suas ovelhas como "prova" de sua chefia.
Pelo visto, para os católicos "apascentar" é o mesmo que "chefiar". Mas é mesmo? O próprio termo "meus" da frase indica que os cordeiros não eram e nem seriam "de Pedro", mas de Jesus.
Não seria somente um aviso de Cristo à Pedro para que não saísse de suas atribuições como um dos Apóstolos da futura congregação cristã? Com certeza, Jesus já estava antevendo o desvio de Pedro assim como viu também que ele o negaria 3 vezes.
Qual foi a reação de Pedro ao ouvir "apascenta minhas ovelhinhas" por 3 vezes?
Não foi a de quem estava sendo "comissionado" como chefe". Ao contrário disso, "Pedro entristeceu-se".

E esse predito desvio de Pedro realmente aconteceu.
Pedro, em seu desvio espiritual, comprometeu a liberdade dos cristãos por ter medo de homens a ponto de precisar ser "repreendido" por Paulo (Gálatas 2:1-14).
Seria o suposto "chefe dos Apóstolos" repreendido "na frente de todos" por alguém que "nem era dos doze"? Caso Pedro fosse "o chefe" isso certamente não aconteceria.
Paulo se converteu depois da morte de Cristo, portanto não fazia parte dos doze Apóstolos, embora depois tenha feito parte, junto com outros cristãos, do "corpo governante" (não confundir com "chefia" ao estilo mundano) dos cristãos em Jerusalém.
E Jesus concluiu o assunto por dizer que Pedro, por agir incorretamente seria levado à morte "sem que glorificasse Deus", e que, portanto, era preciso que ele continuasse a seguir Jesus.
Parece tal assunto, principalmente a sua conclusão, com uma "comissão de chefia"?



- 2 - "As Chaves dos Céus"
Os católicos também costumam citar "as chaves" que Pedro recebeu como "prova" de sua chefia.
Lemos em Mateus 16:19, (BJ): “Eu te darei as chaves do reino dos céus: o que ligares na terra será considerado ligado nos céus; o que desligares na terra será considerado desligado nos céus.”
Mas o que essas chaves eram? E quantas eram?

No livro de Apocalipse, escrito por João, sob inspiração do próprio Jesus, fez-se referência a uma chave simbólica usada por ele próprio (Jesus) para abrir oportunidades aos humanos de aprenderem sobre Seu Pai:
Apocalípse  3:7, 8, BJ lemos: “Assim diz o Santo, o Verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, o que abre e ninguém mais fecha, e fechando, ninguém mais abre . . . pus à tua frente uma porta aberta que ninguém poderá fechar.”
Se é Jesus, e não Pedro, o proprietário da chave do reino "nos céus", o que eram "as chaves" de Pedro?
O contexto bíblico de suas viagens missionárias indica que Pedro usou as “chaves” que lhe foram confiadas, que eram duas, para abrir (a judeus, samaritanos, gentios) a oportunidade de receberem o espírito de Deus, a fim de entrarem no Reino dos céus. Eles se converteriam, seriam batizados e receberiam o espírito santo de Deus.
As chaves eram então "oportunidades espirituais" que seriam dadas, por parte de Pedro, às pessoas que até então não faziam parte dos cristãos.
E quando as chaves foram usadas?

A primeira chave Pedro usou com os "homens da Judeia":
Lemos em Atos 2:14-39, BJ: “Pedro, de pé com os Onze, ergueu a voz e assim lhes falou: ‘Homens da Judeia e habitantes todos de Jerusalém . . . Deus constituiu Senhor e Cristo, a esse Jesus que vós crucificastes.’ Ouvindo isto, sentiram o coração transpassado e perguntaram a Pedro e aos apóstolos: ‘Irmãos, que devemos fazer?’ Pedro respondeu: ‘Convertei-vos, e seja cada um de vós batizado em nome de Jesus Cristo, para a remissão dos pecados, e recebereis, então, o dom do Espírito Santo. A promessa é, de fato, para vós, assim como para os vossos filhos e para todos aqueles que estão longe, todos quantos forem chamados por Deus nosso Senhor.’”
Estava Pedro indicando a sua suposta chefia dos cristãos ao falar aos homens da Judeia? Ou ele, reafirmado a chefia do próprio Cristo estava 'abrindo a oportunidade' àqueles homens - os mesmos que crucificaram Cristo - de se tornarem cristãos recebendo o espírito santo, como ele próprio havia recebido também?

A segunda chave, foi usada por Pedro com os samaritanos
Em Atos 8:14-17, BJ lemos: “Os apóstolos, que estavam em Jerusalém, ao saberem que a Samaria acolhera a palavra de Deus, para lá enviaram Pedro e João. Estes desceram, pois, para junto dos samaritanos e oravam por eles, a fim de que recebessem o Espírito Santo. Porque ainda não viera sobre nenhum deles; mas somente tinham sido batizados em nome do Senhor Jesus. Impunham-lhes, pois, as mãos, e eles recebiam o Espírito Santo.
O versículo 20  indica que Pedro é quem tomou a dianteira nessa ocasião. Isso não significa que era o chefe de João, pois ele também "foi enviado".
Se Pedro fosse "o chefe", ele teria enviado João. Mas o que aconteceu foi que os dois 'foram enviados'. Mas enviado por quem?
Note que foram "os Apóstolos que estavam em Jerusalém", que serviam como "corpo governante dos cristãos", enviaram Pedro e João. Não é citado o nome de um dos Apóstolos em particular, portanto as decisões eram tomadas em conjunto, pelos doze, não havendo primazia entre eles.
Certamente que as decisões do corpo dos apóstolos era guada por espírito santo. Eles, como "corpo governante" oravam a Deus por orientações.
Depois de usada esta "segunda chave" não se tem mais notícia de que pedro tenha feito algo diferente digno de nota. Ele já não tinha mais as chaves.



Paulo, e não Pedro, era tido como o "chefe"... Pelos Inimigos.
Da maneira como os católicos colocam Pedro em posição de destaque entre os cristãos, tem-se a ideia de que é ele quem decide as coisas "na terra e nos céus".
No entanto a Bíblia não fala de uma suposta chefia de Pedro. Os próprios sacerdotes judeus da época de Pedro, inimigos do cristianismo, não consideravam Pedro como o chefe, embora erroneamente consideravam Paulo como sendo o chefe (Atos 24:1-8)


Pedro "Relatava" Seu Serviço de Pregação?
Quando o cristianismo estava se formando, Pedro era um dos que participava ativamente no serviço de pregação do reino de Deus e como todos os outros, tanto dos apóstolos como dos convertidos também "relatava seu serviço de pregação" à sede, que ficava não em Roma mas em Jerusalém.
Relatava à quem?
Tudo indica que o Apóstolo responsável talvez pela organização dos serviços de pregação pela congregação base de Jerusalém, era Tiago, meio irmão de Jesus, embora este também não fosse considerado como "chefe". Todos tinham uma atribuição específica e nenhuma era considerada "mais importante" que outra.
O próprio Pedro, estando em dificuldades a ponto de ter de viajar para não ser perseguido em Jerusalém, pediu para os discípulos "relatar á Tiago" o que ele, naquelas circunstâncias, não podia fazer (Atos 12:17)
Será que o suposto "chefe", o "príncipe" dos apóstolos, da igreja e dos cristãos relataria algo á alguém? Caso fosse não seriam os outros a lhe relatarem seus serviços? E a "sede" do cristianismo não estaria onde ele estivesse?


"Sete Igrejas" - E Não Uma! E Não em Roma
O livro de Atos, que narra o nascedouro do cristianismo, fala de Pedro somente até o capítulo 15. Depois disso se concentra em Paulo.
Se Pedro fosse o suposto "chefe" da suposta "igreja em Roma", certamente ele seria o personagem principal de Atos, do início ao fim, e também das posteriores cartas de Paulo e outros Apóstolos. Seria também mencionado em Apocalipse, livro que foi escrito por João.
Mas não foi. Nenhum dos escritores bíblicos mencionou Pedro ou qualquer outro como sendo "chefe" deles.
João, o último Apóstolo vivo, inclusive não mencionou uma suposta "igreja de Cristo", embora tenha dito que escreveu para "as sete igrejas na Ásia" (nenhuma em Roma) sem mencionar chefes humanos para nenhuma delas. Pelo contrário João disse haver "sete espíritos" diante de Deus (Apocalipse 1:4).
Interessante notar que João escreveu o Apocalipse por volta de 100 EC, período em que a igreja diz ter havido quatro papas depois de Pedro: Lino, Anacleto, Clemente e Evaristo.
João, mesmo sendo Apóstolo e o inspirado escritor do Apocalipse, não é citado entre eles. isso lhe parece lógico ou pura fantasia?


Conclusão
Depois dessas considerações, torna-se claro que as afirmações da Igreja sobre Pedro e sobre sua Igreja não são verdadeiras. Não encontram respaldo bíblico ou histórico.
Mas o que o Livro de Atos diz sobre as viagens missionárias de Pedro? Quantas foram e para onde Pedro foi?
Você vai ficar impressionado em saber que, em comparação com as viagens de Paulo, as viagens de Pedro foram bem menores, todas elas para perto de Jerusalém.
Como vimos na 1ª parte dessa matéria, Pedro não foi à Roma. Exatamente para onde ele viajou é o que vamos ver na 3ª parte dessa matéria.


Continua