quarta-feira, 27 de julho de 2016

Taubaté Cidade Cara Pra Dedéu - Episódio 8 - Malandros Disfarçados de Mendigos

Taubaté Cidade Cara Pra Dedéu!

Episódio 8: Malandros Disfarçados de Mendigos 

Gertrudes. Desiludida com o andamento das coisas decide cair na farra!


Gertrudes saiu de casa no bairro da Estiva para ir ao centro. Precisava ir ao banco retirar a mixaria de sua aposentadoria e pagar as contas. Todos os meses era a mesma coisa. Oitenta por cento do seu dinheiro já ficava no banco, nas contas de água, luz, telefone e empréstimo. Tudo bem. Antes isso que nada. 
Depois de quase quarenta minutos no ponto de ônibus, conseguiu entrar. Mas não sentar. O ônibus como sempre estava lotado e os marmanjos, como sempre não cediam seus lugares às mulheres. Gertrudes, sessenta e sete anos já nem ligava mais pra isso.


Na altura do Hospital Regional, entra no ônibus um rapaz com uma caixa de doces. Diz ser de uma igreja chamada "Templo de Deus" e que se as pessoas "se sentissem tocadas no coração" iriam ajudar "em nome de Jesus" porque ele mesmo saiu "do mundo do crime, das drogas, da prostituição, do quase suicídio" e blá blá blá. Aquela mesma lenga lenga repetida nos templos.
Algumas senhoras, claro, pagaram até cinco reais por um docinho de qualidade duvidosa e que nos bares não custa nem cinquenta centavos. Receberam em troca, junto com o doce, um "Deus te abençoe". 
Mas Gertrudes não colaborou, afinal ela pertencia à Igreja Adventista do Sétimo Dígito, inspirada na vida do Santo Daime Um Dinheiro Aí, e já depositava na conta do seu pastor, Milas Salafraia os dez por cento semanais cobrados via boleto bancário. Ela iria para o "paraíso" depois da morte apesar do seu pastor já viver no paraíso aqui na Terra graças à ela e a outros milhares.


Saiu do banco. Agora um pequeno passeio pelo centro. Talvez comer um pastel. Sim, um pastel! Por que não?.
Na pastelaria apareceu uma senhora gorda vendendo pano de prato mas que também aceitava dinheiro "de bom grado", salgadinho ou qualquer coisa. Desta vez Gertrudes colaborou, afinal para ela aquela mulher "estava trabalhando e não roubando". 
Todavia assim que que a gorda saiu, entrou uma menina que era a cara da gorda, entregando um papel escrito que precisava de ajuda para "ajudar sua mãe desempregada". Gertrudes deu umas moedas e perguntou se aquela mulher que havia saído era sua mãe. "Não" foi a resposta. Só que depois as duas passaram na frente da pastelaria e ela ouviu a gorda dizer: "E aí filha, conseguiu quanto?"
Gertrudes começou a se sentir enganada. O pastel saiu mais caro do que a encomenda.


Bem! O negócio agora era ir embora. Cuidar da casa e tocar a vida. Vou a pé mesmo afinal a tarde estava fresca. 
Durante o trajeto da Praça Dom Epaminondas até a Rodoviária Velha nada menos que seis mendigos lhe pararam para pedir dinheiro. E da Rodoviária até a sua casa na Estiva, mais seis. Gertrudes deu uma moeda à cada um deles.
Daí quando entrou em casa o telefone tocou. Era uma das tais "Instituição de Ajuda á Crianças com Câncer". Gertrudes, agora mais desconfiada negou ajuda, mas não sem ouvir que ela "não tinha coração". 
Depois daquela ligação houve mais quatro. Todas de instituições de ajuda à crianças com câncer, inclusive de crianças "no nordeste".
Não deu outra. Gertrudes pirou. Caindo em si, percebeu que estava vivendo para dar tudo o que tinha para malandros disfarçados de mendigos e falsos "ajudadores de crianças". É por isso que não lhe sobrava nada.


Nos dias que se seguiram, Gertrudes se preocupou mais consigo mesma. Iria viver a vida que nunca teve. Viúva iria aos bailes e quem sabe arrumar até um namoradinho, coisa que seu pastor lhe proibia por temer que ele a tirasse da igreja. 
"Quer saber de uma coisa? A Igreja que vá à merda! Não vou mais lá merda nenhuma. Afinal a promessa é apenas para depois da morte mesmo!" Ponderou Gertrudes.
Gertrudes é mais uma das pessoas que acordou e se livrou de uma das características de Taubaté: A mendicância opressiva dos malandros.


Acyr - 06/07/2016

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