terça-feira, 19 de abril de 2016

WILLIAM SHAKESPEARE - O MITO - 2ª parte

WILLIAM SHAKESPEARE - O MITO 

2ª parte

As seis assinaturas atribuídas à Shakespeare existentes. Note as diferenças
entre elas, tanto de grafia como de estilo. É interessante notar que elas só apareceram em 
documentos posteriores entre 1612 e 1616, anos em que Shakespeare fez seu testamento 
antes de morrer e quando as obras shakespearianas deixaram de ser produzidas.


Uma Obra - Vários Estilos Adaptáveis. 
Normalmente as pessoas não pensam na totalidade da obra atribuída à Shakespeare. Pensam em termos fracionários. 
Quando um artista interpreta uma peça shakespeariana, ele se atém exclusivamente àquela peça e à uma pretensa personalidade - talvez imaginada por ele mesmo - de quem a criou. Assim, muitos ligam o nome Shakespeare à poucas obras, ou mesmo à uma só. Mas tal atribuição pode ser ainda menor. As vezes o nome Shakespeare nem é ligado à obra em pauta.
A comédia "Tudo Bem Quando Termina Bem", por exemplo, faz parte da obra "shakespeariana". Mas a versão brasileira estreada em 2014 não coloca o nome Shakespeare em evidência nela. Ao invés disso sobressalta o nome do ator Fábio Assunção, ator na comédia. Fabio Assunção nada diz sobre Shakespeare. Atribui o trabalho ao "entendimento dela" do diretor José Eduardo Belmonte. Isso contribui ainda mais para a ignorância popular sobre o assunto.
O que dizer então da obra completa que, como vimos, é composta de mais de 40 grandes volumes divididos em três estilos (Tragédias, Históricos e Comédias), sem falar nos poemas e sonetos (mais de 130)? 
Um detalhe importante: Em nenhuma das obras a cidade natal de Shakespeare, Stratford-upon-Avon é mencionada, apesar de serem mencionadas, com riqueza de detalhes, outras cidades inglesas, onde Shakespeare nunca esteve e regiões longínquas dos antigos impérios romano, grego e egípcio.

Não há um único caso onde um escritor tenha mais de um estilo de escrita. Mas à Shakespeare é atribuído praticamente todos os estilos. Além disso, dentro de um estilo, as obras também estão divididas em vários e diferentes modos de narrativa.
Por exemplo: A tragédia "Antônio e Cleópatra" (que romanceia o general romano Antônio, conquistador, com a rainha do Egito Cleópatra, conquistada) é bem diferente de outra tragédia, "Julio César" (Que retrata a influência política do Imperador romano no cotidiano da corte, embora o próprio Cesar não apareça na peça).
Além dos diferentes estilos nestas duas obras está também o fato da exatidão histórica delas quanto aos impérios retratados (Roma e Egito) o que só pode ser verificado séculos mais tarde. Mas os ingleses da época de Shakespeare, com exceção das expedições militares estrangeiras, nada sabiam sobre eles.

Obras lançadas à Toque de Caixa
Há também a questão da cronologia do lançamento das obras ao público. 
Estima-se que todas elas apareceram, de forma irregular, entre 1590 (quando Shakespeare tinha 26 anos de idade e nada documentado a seu respeito) e 1612 (4 anos antes dele falecer). 
Mas 22 anos é um espaço de tempo muito curto para alguém escrever tanto. 
Para se ter uma ideia da rapidez com que as obras foram lançadas, em um único ano, 1599, nada menos de 5 obras, de variados estilos, vieram á público: "Henrique V", "Julio César", "Muito Barulho Por Nada", "Como Gostais" e "Hamlet". Em outro ano, 1603, também apareceram outras 5 obras, grandes e variadas: "Tudo Bem Quando Termina bem", "Otelo", "Rei Lear", "Macbeth" e "Medida por Medida". Em dois anos dez obras. Um conjunto maior do que o que muitos escritores levariam uma vida inteira para escrever.
Pergunte-se: Mesmo nos dias atuais, com toda a tecnologia de que dispomos. Será que alguém poderia produzir dez grandes obras literárias em apenas dois anos? Não. Não existe nenhum caso assim. o que então pensar que isso pudesse ser feito na época de Shakespeare onde tudo era feito manualmente?
Some-se à isso os anos em que não apareceu nenhuma obra: 1591, 1601, 1604, 1605, 1610 e 1611. Assim a obra toda foi, alegadamente, produzida em 16 anos. Só este raciocínio impede que alguém, com um mínimo de senso lógico atribua a obra à uma só pessoa. 
Mas se a obra não foi escrita por uma só pessoa, quais foram, então, os autores da obra? 


A Questão da Logística
Na época em que Shakespeare viveu, todos os escritores pertenciam à nobreza. Ao povo inglês não era qualquer fornecida instrução além do básico e poucos eram os que sabiam, trivialmente, escrever e fazer contas. 
Além disso não havia disponível fora das academias - vedadas ao povo - material para a produção de livros. Sequer havia material para se produzir um cartaz.
E mesmo a produção de um único livro, escrito por um erudito nobre, tendo à disposição todo o material necessário, podia levar anos.
De maneira que a obra dita "shakespeariana" foi obrigatoriamente escrita por nobres ingleses. E não foi escrita no espaço de tempo que geralmente lhe é atribuído hoje (durante a vida de Shakespeare). Ela pode ter sido escrita, devido ao alto grau de conhecimento geográfico, humano e histórico, por várias décadas, abrangendo vários períodos da história militar inglesa de antes do nascimento de Shakespeare. 
Surge então a questão: Por que as obras só apareceram depois que Shakespeare comprou o teatro Globe, em 1599, e pararam antes da época em que o teatro foi destruído por um incêndio em junho de 1613? 


Driblando a Ética da Realeza
Havia o problema da Ética Real. Esta dizia que as obras produzidas pelos nobres não podiam ser disponibilizadas ao povo, sob pena de exclusão do nobre por causa de "mistura". 
Então como foi que as nobres obras foram parar no teatro Globe, para encenação popular?
Os nobres ingleses queriam lucrar com suas obras. Então a saída para esse entrave foi disponibilizar as obras sob o nome de uma pessoa do povo, mediante prévio acordo financeiro. 
Shakespeare podia ser analfabeto mas não foi de forma alguma um sujeito despretensioso. Dado a fortuna que juntou - principalmente depois que adquiriu o teatro Globe - fica óbvio que ele foi, além de ator, um esperto homem de negócios.
As peças então foram encenadas no teatro, lotando o teatro vez após vez e produzindo enormes quantias em dinheiro. Essas quantias foram divididas entre o autor (ou detentor) verdadeiro da obra e Shakespeare. 
Quando uma peça já não lotava mais o teatro, outra que podia ser de igual magnificência foi colocada em seu lugar. Isso explica a enorme quantidade de interpretações em pouco tempo. 
Era notável que em outros teatros, as peças de outros autores, que segundo a A World Book Encyclopedia (em inglês) eram sabidamente "todos da nobreza ou da classe alta", não tinham tanta variedade. Um autor (naturalmente alguém assinando por um nobre, raramente apresentava mais de um trabalho dentro de um período de vários anos. 

Pensa que a desconfiança da falsa autoria de Shakespeare é nova? Esta mesma enciclopédia acrescenta que já naquela época não se acreditava que Shakespeare fosse o autor das obras apresentadas em seu teatro. As pessoas "“se recusavam a crer que um ator de Stratford-upon-Avon poderia ter escrito as peças. A formação comum de Shakespeare, na zona rural, não condizia com a imagem do gênio que as escreveu.” 
Isso porém não responde à pergunta sobre quais foram os escritores da obra.


Quais Os Nobres Escreveram?
A verdade é que a obra é anônima, ou seja: não se conhece de fato seus autores. E jamais conheceremos simplesmente porque no tempo hábil isso não foi revelado. 
De forma que colocar alguém entre os autores só pode ser por meio de teorias não provadas. 
E isso tem sido feito à séculos e já sugeriram o nome de vários autores (pelo menos 60), incluindo Christopher Marlowe (1564-1593), poeta e tradutor inglês. 
Tentaram também colocar (talvez por motivos políticos) como o autor de alguma obra shakespeariana, pessoas que nada tinham a ver com literatura, como o cardeal Tomás Wolsey (1473-1530) e Sir Walter Raleigh (1552-1618), navegador inglês. 
A própria rainha Elizabeth I (1533-1603) também foi incluída na lista apesar de não se saber quase nada sobre sua educação ou que tenha feito outra coisa na vida que não fosse política.
Quais os argumentos que os proponentes usam para justificar os nomes defendidos? Diversos, contudo nenhum que seja bastante contundente. 

Por exemplo, os defensores do Visconde de Saint Alban, Francis Bacon (1561-1626), filósofo, dizem que "foi ele" ou que pelo menos "ele foi um deles". Assim o fazem porque nas obras a cidade do seu viscondado, Saint Alban (que Shakespeare nunca visitou), é mencionada 15 vezes, e que Stratford-upon-Avon, cidade de Shakespeare nenhuma. 
Sustenta-se o argumento? Para a FrancisBaconSociety, fundada em 1886 e que dura até hoje, sim. Mas, se assim fosse o que dizer das inúmeras outras cidades citadas?

Uma vez provada a não autoria de Shakespeare e o anonimato das obras, quais seriam os interesses de se manter ainda viva as fábulas sobre Shakespeare? 


Outros Interesses
Atualmente há um fator que evita que a discussão sobre Shakespeare chegue ao nível de se duvidar de sua autoria. Por quê? 
Porque há a delicada questão do turismo inglês na cidade inglesa de Stratford-upon-Avon. Esta cidade ainda permanece praticamente à margem da urbanização das grandes cidades e precisa do turismo para se manter. E o turismo nessa cidade é exclusivamente por causa de Shakespeare. 
Milhares de "fãs" de Shakespeare afluem todos os anos pra lá, gerando enorme quantia em dinheiro para a cidade. Assim, para seus habitantes, que lucram com o turismo, não interessa que se desmistifique esse personagem. Eles podem até nem acreditar em Shakespeare, mas o fazem pelo óbvio motivo financeiro.
Realmente seria um fato desastroso para a cidade se o turismo "shakespeariano" deixasse de existir. Sobre isso o diretor de teatro britânico Tyrone Guthrie, o "Sir William" (1900-1971) falou:
"Mas e se ele cair, uma vez que apenas poderia, eventualmente ser, que William Shakespeare de Stratford não seja o autor das peças atribuídas a ele?
Há uma teoria, avançada por renomados acadêmicos, séria e, na minha opinião, plausível, de que Shakespeare apenas emprestou seu nome, como uma cobertura, para as atividades literárias de outras pessoas… Se, por algum acaso terrível, essa teoria for provada, imediatamente em seguida, o fluxo turístico de Stratford iria diminuir.
" - New York Times Magazine - 22 de Abril de 1962 - Pg 60-1 


Conclusão

De maneira que não há o que duvidar. Shakespeare não foi o autor da obra e tampouco saberemos quais foram seus escritores. 
É também bom levar em conta o que pessoas reflexivas disseram a respeito desse tema:
"Basta um simples olhar sobre seus patéticos esforços para assinar o seu nome (com letra de analfabeto). Só isso deveria eliminar definitivamente Shakespeare de uma análise mais aprofundada nesta questão - ele não podia escrever". - Mortimer J. Adler, Professor de Filosofia da Universidade de Chicago - Letter to Max Weismann, Director, Center for the Study of The Great Ideas - 7 de Novembro, 1997

"No trabalho dos maiores gênios, humildes inícios irão se revelar, mas não se pode traçar o menor sinal de Shakespeare entre eles. Não estou interessado em que escreveu as obras de Shakespeare… mas eu dificilmente poderei pensar que foi o garoto de Stratford . Quem as escreveu tinha uma atitude aristocrática " - Charles Chaplin - Reconhecendo a diferença entre os níveis de vida de Shakespeare (rudimentar) e dos aristocratas anônimos (refinada) que escreveram as obras. - My Autobiography , pg.364

"Eu já não acredito que William Shakespeare o ator de Stratford foi o autor das obras que foram atribuídas a ele. É inegavelmente doloroso para todos nós que até agora não sabemos quem foram os autores das comédias, dramas e sonetos de Shakespeare, que foi, de fato, apenas um cidadão, filho da província de Stratford, que atingiu uma modesta posição como ator em Londres." - Sigmund Freud - Estudo auto-biográfico (1927), pg. 130


Publicado no grupo Taubaté - SP em 10/04/2016 aqui:
https://www.facebook.com/groups/255288214623951/permalink/619589534860482/ 

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